quarta-feira, 10 de julho de 2013

Esta cronica foi publicada na VEJA BH pela escritora Cris Guerra, conforme o post. Achei muito interessante e espero que gostem!






VOCÊ SE VESTE DE QUÊ?

Roupa é pura bobagem, é o que ouço por aí. Importar-se com isso denota superficialidade. No entanto, todos os dias temos de fazer uso dela.

Para muitos, a luta é árdua. Os que não se permitem errar preferem seguir o modelo vigente, sem riscos. No outro extremo, os que desprezam o senso comum cobrem-se de informação e inteligência. Vestem-se de certezas e, por vezes, desfilam arrogância. Acreditam despir-se de preconceitos, quando, na verdade, estão vestindo outros.

Disfarçadas de futilidade, nossas roupas contam histórias sobre nós. E às vezes abrem caminhos. Como na experiência relatada no livro Jump Your Marketing, ainda não lançado no Brasil. Em um trecho muito movimentado no centro de Nova York, um homem vestido de forma absolutamente simples atravessa a rua enquanto o sinal de pedestres está vermelho. Depois repete o trajeto, desta vez usando terno e gravata. O número de pessoas que atravessavam o sinal vermelho com o homem de terno aumentava 350% em relação ao que o acompanhou da primeira vez.

Por que será? Quem estava certo? Quem estava errado? Neste caso - e em tantos outros - existe alguém certo ou alguém errado?

Um projeto da fotógrafa alemã Herlinde Koelbl ilustra como esses estereótipos movem o mundo. O ensaio intitulado A Roupa Faz o Homem reúne setenta fotografias em que pessoas de diferentes áreas foram retratadas com e sem uniforme. Algumas delas nem sequer são reconhecidas sem o traje que define sua atividade. A série deixa no ar a pergunta: a vestimenta pode mudar a postura e o comportamento das pessoas?

Com uma linha de raciocínio semelhante, o fotógrafo inglês Lee Kirby clicou a série Judgement (julgamento, em inglês). Registrou pessoas bastante tatuadas, depois fez um tratamento de imagem que lhes tirava as pinturas corporais e confrontou as duplas de fotos. Ganharam respeito?

“O que seria do amarelo se não fosse o mau gosto?”, dizia minha mãe. Mas o tempo passou, e o amarelo vive reluzente em vários pontos do meu guarda-roupa. A moda tem essa virtude: ajuda a ver as coisas de outra forma. Preferências mudam de lugar. Opiniões vestem-se de novas cores, sem culpa ou constrangimento. Já as tatuagens são definitivas. O que vestir? O que tatuar?

Olho para meu guarda-roupa, depois vou até o espelho. Mesmo correndo o risco de errar na produção, eu me visto de mim mesma. E você, se veste de quê?


Nenhum comentário:

Postar um comentário